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10.7.10

As Técnicas Argumentativas

Técnicas argumentativas são os fundamentos que estabelecem a ligação entre as teses de adesão inicial e a tese principal. Essas técnicas compreendem dois grupos principais: os argumentos quase lógicos e os argumentos fundamentados na estrutura do real.
 
Argumentos Quase Lógicos
1 - Compatibilidade e Incompatibilidade
2 - Regra de Justiça
3 - Retorsão
4 - Ridículo
5 - Definições (Etimológicas e Normativas)

Argumentos do Real
1 - Desperdício
2 - Exemplo
3 - Modelo e Antimodelo
4 - Analogia
5 - Pragmático

9.7.10

Argumentos Quase Lógicos

 
Compatibilidade e Incompatibilidade
Utilizando essa técnica, a pessoa que argumenta procura demonstrar que a tese de
adesão inicial, com a qual o auditório previamente concordou, é compatível ou
incompatível com a tese principal. 

Podemos, por exemplo, antes de tentar convencer o Secretário de Transportes de nossa
cidade a retirar as lombadas das ruas (tese principal), fazê-lo concordar com a tese de
adesão inicial de que, em caso de incêndio ou transporte de doentes, as lombadas
prejudicam sensivelmente a locomoção de carros de bombeiro e de ambulâncias, que são obrigados a parar a cada obstáculo, atrasando um socorro que deveria ser imediato. As lombadas são, pois, incompatíveis com o bom funcionamento dos serviços públicos de emergência.

Esses argumentos recebem o nome de quase lógicos, porque muitas das
incompatibilidades não dependem de aspectos puramente formais e sim da natureza das coisas ou das interpretações humanas. Um eleitor norte-americano, mesmo concordando que o país estava pior no governo Carter, poderia votar nele, por uma questão de amizade, parentesco ou religião. Em um argumento lógico isso é impossível. Eu não posso, por exemplo, depois de dizer que todo homem é mortal, dizer que Paulo, apesar de ser homem, não é mortal, porque é meu amigo!

Regra de Justiça
A regra de justiça fundamenta-se no tratamento idêntico a seres e situações integrados em uma mesma categoria. Um filho, cujo pai se recusa a custear-lhe a faculdade, pode protestar, dizendo que acha isso injusto, uma vez que seus dois irmãos mais velhos tiveram seus cursos superiores pagos por ele. É um argumento de justiça, fundamentado na importância de um precedente.
Utilizando ainda a questão das lombadas, podemos argumentar, defendendo a tese principal da sua retirada, dizendo que esses obstáculos são injustos, uma vez que tanto aqueles que têm por hábito andar em alta velocidade, quanto aqueles que não têm esse hábito são punidos da mesma forma, pelo desconforto de ter de frear o carro, pelo desgaste do veículo etc.

Retorsão
Denominamos retorsão a uma réplica que é feita, utilizando os próprios argumentos do interlocutor. No dia seguinte, após ter entrado em vigor, no ano de 1998, o novo Código Nacional de Trânsito, os noticiários de televisão mostravam donos de carros antigos comprando, em lojas de acessórios, cintos de segurança de três pontos e apoiadores de cabeça para os bancos traseiros, objetivando cumprir um artigo desse código que estabelecia a necessidade desses equipamentos em todos os veículos em circulação no país. Horas depois, um jurista apareceu na mesma emissora de televisão, afirmando que não havia a menor necessidade daquele procedimento, uma vez que o mesmo código, em outro artigo, dizia que não poderiam ser alteradas as características originais de fabricação dos veículos, ou seja, o próprio código que exigia adaptações, em outro artigo, desautorizava-as. Ficou valendo esta última posição! A obrigatoriedade dos cintos de três pontos e dos apoiadores de cabeça para os bancos traseiros ficou restrita aos carros fabricados a partir da data de vigência do novo código.


Ridículo
O argumento do ridículo consiste em criar uma situação irônica, ao se adotar, de forma provisória, um argumento do outro, extraindo dele todas as conclusões, por mais estapafúrdias que sejam. Um exemplo desse procedimento pode ser visto no artigo abaixo, de autoria de Clóvis Rossi, publicado no jornal Folha de S. Paulo:

Cai o Palace 2 e os culpados são as vítimas, se se pudesse levar a sério a afirmação de seu construtor, o deputado Sérgio Naya, de que ouviu falar que algum morador do prédio estava construindo irregularmente uma piscina, em clara insinuação de que fora essa a causa do desabamento. São Paulo quase some sob as águas de março e os culpados são, de novo, as vítimas. Se não fosse o tal do povo sujar as ruas, os bueiros não teriam ficado entupidos e não teria, em conseqüência, havido alagamentos. É o que alega a laboriosa Prefeitura de São Paulo, gestão Celso Pitta.
Como no Brasil há uma forte tendência a que peguem modas indecentes, vamos desde logo à lista dos próximos culpados:

1. Está desempregado? A culpa é sua. Quem mandou preferir ficar em casa, batendo papo com a ”patroa”, em vez de pegar no pesado? Você acaba se viciando no generosíssimo seguro-desemprego pago pelo governo.

2. Sua pequena ou microempresa quebrou? A culpa é sua. Se tivesse PhD em Ásia, você ficaria sabendo que a Tailândia ia quebrar, que logo seria seguida por um punhado de
”tigres” e o Brasil seria obrigado a duplicar os juros que já eram dos mais altos do mundo.
Será que só você não percebeu que a Ásia ia quebrar?

3. Levou uma bala perdida? A culpa é sua. Quem mandou sair à rua, dormir ou nadar sem um colete à prova de balas?

4. Não conseguiu colocar o filho na escola pública de sua preferência? A culpa é sua. Por que não comprou uma casa em um bairro em que a escola próxima tem vagas?

5. Está penando na fila do INSS? A culpa é sua. Só você não ficou sabendo que a economia de mercado oferece uma penca de planos de saúde privados (a fila pelo menos é menor). E não me venha com a história de que o seu salário não lhe permite pagar um plano desses.
Quem mandou você não se preparar para a tal da globalização?

Como vemos, o articulista aceita de modo provisório e irônico o argumento do construtor Sérgio Naya e do prefeito de São Paulo, e aplica-o em diferentes situações, gerando paradoxos.

Logo abaixo, pessoal, vemos aquele causo do Veríssimo sobre o cego que caçou com gato.

O escritor Luís Fernando Veríssimo escreveu, certa vez, uma crônica, utilizando a técnica do ridículo. Trata-se da história de um pobre cego que não tinha conseguido encontrar um cão para guiá-lo pelas ruas da cidade e, como diz o provérbio que ”quem não tem cão caça com gato”, arrumou ele um gato. Depois de certo tempo, era visto passeando não só pelas ruas da cidade, guiado pelo gato, mas também por cima dos muros, por sobre os telhados e por outros lugares insólitos freqüentados usualmente por esses felinos. Por isso eu prefiro dizer: quem não tem cão melhor não caçar, porque gato só atrapalha!


Definições
Para entender o uso das definições como técnicas argumentativas, precisamos, primeiramente, conceituá-las. As definições podem ser: normativas e etimológicas.

a)Definições Normativas.
As definições normativas indicam o sentido que se quer dar a uma palavra em um determinado discurso e dependem de um acordo feito com o auditório. Um médico poderá dizer, por exemplo: — Para efeito legal de transplante de órgãos, vamos considerar a morte do paciente como o desaparecimento completo da atividade elétrica cerebral.

b)Definições Etimológicas.
As definições etimológicas são fundamentadas na origem das palavras. Podemos dizer, como exemplo, que convencer significa vencer junto com o outro, pois é formada pela preposição com mais o verbo vencer. Se fosse vencer o outro ou contra o outro, deveria ser contravencer. É preciso, contudo, prestar atenção a um fato importante. Às vezes, as definições etimológicas não correspondem mais à realidade atual. Tal é o caso, por exemplo, da palavra átomo que, examinada etimologicamente, quer dizer aquilo que não pode ser dividido (a + tomo). Mas, todos sabemos, hoje em dia, que os átomos são compostos de muitas partículas subatômicas e podem ser divididos por meio da fissão nuclear.
As definições expressivas e etimológicas são as mais utilizadas como técnicas argumentativas, uma vez que permitem a fixação de pontos de vista como teses de adesão inicial. Um arquiteto poderá tentar convencer um cliente a aceitar modificações na localização das janelas de um projeto, ou no seu paisagismo, a partir da definição expressiva (tese de adesão inicial) de que uma janela deve ser sempre uma oportunidade para se contemplar o verde.
A filósofa Marilena Chauí utiliza, no texto a seguir, a definição etimológica de religião, para explicar o modo como as várias culturas se relacionam com o sobrenatural:

A palavra religião vem do latim: religio, formada pelo prefixo re (outra vez, de novo) e o verbo ligare (ligar, unir, vincular). A religião é um vínculo. Quais as partes vinculadas? O mundo profano e o mundo sagrado, isto é, a Natureza (água, fogo, ar, animais, plantas, astros, pedras, metais, terra, humanos) e as divindades que habitam a Natureza ou um lugar separado da Natureza.

Nas várias culturas, essa ligação é simbolizada no momento de fundação de uma aldeia, vila ou cidade: o guia religioso traça figuras no chão (círculo, quadrado, triângulo) e repete o mesmo gesto no ar (na direção do céu, ou do mar, ou da floresta, ou do deserto). Esses dois gestos delimitam um espaço novo, sagrado (no ar), e consagrado (no solo). Nesse novo espaço erguem-se o santuário (em latim, templum, templo) e à sua volta, os edifícios da nova comunidade.

8.7.10

Argumentos do real

Pragmático
O argumento pragmático fundamenta-se na relação de dois acontecimentos sucessivos por meio de um vínculo causal. O argumento de Hamlet, no exemplo anterior, trabalha nessa linha, pois, deixando de matar o rei usurpador, evita que essa morte seja causa de um acontecimento futuro que ele não deseja: que a alma do tio vá para o céu. O mais comum, entretanto, é a transferência de valor de uma conseqüência, para a sua causa.

Exemplo: uma semana após a implantação do Novo Código Nacional de Trânsito, em 1998, os jornais divulgaram uma estatística que comprovava um decréscimo de acidentes com vítimas da ordem de 56%. Essa estatística serviu de tese de adesão inicial para a tese principal: a de que o novo Código era uma coisa boa. Para que o argumento pragmático funcione é preciso que o auditório concorde com o valor da conseqüência.

O texto a seguir, de autoria de Paulo Coelho, utiliza o argumento pragmático:

Prevenção
Paulo Coelho
O mullah Nasrudin chamou o seu aluno preferido: ”Vá pegar água no poço”, disse.
O menino preparou-se para fazer o que lhe fora pedido. Antes de partir, entretanto, levou
um cascudo do sábio. ”E não entre em contato com jogadores e pessoas vaidosas, senão terminará perdendo sua alma!”, disse o sábio.
”Ainda nem saí de casa, e já recebi um cascudo! O senhor está me castigando por algo que não fiz!”
”Com as coisas importantes na vida, não se pode ser tolerante”, disse Nasrudin. ”De que adiantaria castigá-lo, depois que já tivesse perdido sua alma?

O valor de manter pura a alma do menino é transferido para a causa: o castigo aparentemente é injusto.
A lei do carma para os hindus fundamenta-se no argumento pragmático. Dizem eles que os males que as pessoas sofrem na vida presente, sem razão aparente, são justificados por faltas cometidas em existências anteriores. A causa, que não é visível nesta vida, estaria em uma vida passada. Trata-se do carma dessa pessoa.
É preciso, contudo, bastante cuidado e, sobretudo, muita ética, no uso do argumento pragmático. Caso contrário, estaremos de acordo com aquela máxima que diz que os fins justificam os meios. Muitas pessoas acham que, porque tiveram uma educação rígida, tornaram-se competentes e, por esse motivo, pretendem, quando forem pais, educar seus filhos da mesma maneira.
As superstições são também fundamentadas no argumento pragmático. O supersticioso acredita, por exemplo, que, como foi assaltado numa esquina após um gato preto ter passado à sua frente, o motivo foi o gato. Transfere o azar do assalto para a causa supersticiosa do gato preto.

Desperdício
Esse argumento consiste em dizer que, uma vez iniciado um trabalho, é preciso ir até o fim para não perder o tempo e o investimento. É o argumento utilizado, por exemplo, por um pai que quer demover o filho da idéia de abandonar um curso superior em andamento. Bossuet, grande orador sacro, bispo da cidade francesa de Meaux, utilizava esse argumento, ao dizer que os pecadores que não se arrependem e, dessa maneira, não conseguem salvar suas almas, estão desperdiçando o sacrifício feito pelo Cristo que, afinal, morreu para nos salvar.

Exemplo
A argumentação pelo exemplo acontece quando sugerimos a imitação das ações de outras pessoas. Podem ser pessoas célebres, membros de nossa família, pessoas que conhecemos em nosso dia-a-dia, cuja conduta admiramos. Posso defender a tese principal de que as pessoas de mais de cinqüenta anos ainda podem realizar grandes coisas em suas vidas, utilizando como tese de adesão inicial o exemplo de Júlio César que, depois dos cinqüenta anos, venceu os gauleses, derrotou Pompeu e tornou-se governador absoluto em Roma.
Dizem que, quando Tancredo Neves pretendia ser candidato à presidência da República, houve, dentro do PMDB, rumores contrários à sua candidatura, alegando ter ele idade avançada. Imediatamente, Tancredo argumentou pelo exemplo, dizendo que, aos 23 anos, Nero tinha posto fogo em Roma e que, com 71 anos, Churchil tinha vencido os nazistas, na Segunda Guerra Mundial;


Modelo ou pelo Antimodelo
A argumentação pelo modelo é uma variação da argumentação pelo exemplo. Os americanos costumam tomar George Washington e Abraham Lincoln como modelos de homens públicos. Aqui no Brasil, falamos em Oswaldo Cruz, Santos Dumont, mas também em Albert Einstein. Podemos dizer a um garoto que ele não deve acanhar-se de ter problemas em matemática (tese principal), pois até mesmo Einstein tinha problemas em matemática (tese de adesão inicial).
A argumentação pelo antimodelo fala naquilo que devemos evitar. Segundo Montaigne, o antimodelo é mais eficaz que o modelo. Dizia ele, citando o estadista romano Catão, que ”os sensatos têm mais que aprender com os loucos do que os loucos com os sensatos”.
Contava também a história de um professor de lira que costumava fazer seus discípulos ouvirem um mau músico que morava em frente da sua casa, para que aprendessem a odiar as desafinações.
Um caso comum de antimodelo é o do pai alcoólatra. Raramente pais alcoólatras têm filhos alcoólatras. O horror ao antimodelo é tamanho que, muitas vezes, os filhos de alcoólatras acabam tornando-se completamente abstêmios.

Analogia
Quando queremos argumentar pela analogia, utilizamos como tese de adesão inicial um fato que tenha uma relação analógica com a tese principal. O renomado médico baiano Elsimar Coutinho utiliza a argumentação pela analogia, em um livro chamado Menstruação, a Sangria Inútil, defendendo a tese (principal) de que as mulheres devem evitar a menstruação, tomando uma medicação que iniba a ovulação. Ao ser questionado se isso não seria interromper uma coisa natural, diz ele que nem tudo aquilo que é natural é bom. Um terremoto, por exemplo, é uma coisa natural e não é boa. Uma enchente é uma coisa natural e não é boa. Uma infecção por bactérias é uma coisa natural e não é boa. Tanto que tomamos antibióticos para combatê-la. Segundo ele, a menstruação, embora natural, tem aspectos indesejáveis como a tensão prémenstrual, e o perigo de enfermidades graves como a endometriose. Combatê-la, pois, com medicamentos, como fazemos com os antibióticos em relação a uma infecção, é uma medida acertada, diz ele.
Completa ele a sua argumentação, ainda por analogia, dizendo que assim como a humanidade viveu dois mil anos sob os ensinamentos de Hipócrates e Galeno, segundo os quais a sangria era o mais poderoso e eficiente remédio para todos os males, muitas mulheres ainda vêem a menstruação como um mecanismo purificador pelo qual a natureza se livra de um sangue sujo ou ruim.

O jornalista Carlos Heitor Cony, comentando a reeleição do presidente Fernando Henrique
Cardoso, em 1998, escreveu o seguinte artigo no jornal Folha de S. Paulo:

NON HUNC, SED BARABBAM
"Vou mesmo de latim para comentar a vitória de FHC no último domingo. Lendo os jornais nos últimos dias, previ que ele teria 80% dos votos. Acho que os esforçados panfletários a favor exageraram um pouco. Afinal, diante de todas as excelências e boas intenções do candidato à reeleição, os 50 e poucos por cento que obteve nas urnas não lhe fizeram
justiça.
Volto ao título. Creio que a primeira eleição historicizada foi aquela promovida por Pilatos, que desejava livrar a cara de Jesus e o colocou em confronto com Barrabás, um assassino que estava para ser crucificado. Era costume libertar um condenado por ocasião da Páscoa judaica.
O raciocínio de Pilatos foi um voto de confiança na sabedoria do povo: entre um assassino e um profeta cujo crime era anunciar o Reino da Verdade, a plebe rude salvaria o profeta e condenaria o criminoso.
Ledo e ivo engano! Não havia TV, cientistas políticos e institutos de pesquisa para influir na vontade popular. Pilatos exibiu o profeta exangue, nem precisou mostrar o adversário,
todos sabiam que Barrabás não prestava mesmo, sua fama de maus bofes era conhecida na Galiléia, na Samaria, até mesmo nas vizinhanças de Qunram.
Prometeu que libertaria o escolhido pela vontade soberana das urnas - que eram de boca e ao vivo.
Estupefacto, o procurador romano ouviu o que não esperava: ”Non hunc, sed Barabbam!”
(”Não este, mas Barrabás!”) Foi aí que Pilatos lavou as mãos. Não era mais com ele.
Sabemos como tudo terminou: Jesus seguiu para o Calvário, Barrabás deu no pé e nunca mais se soube dele. Ficou sendo, apesar de tudo, o primeiro a ser salvo, literalmente, pelo Salvador.
Costumo invocar situações-limite para tentar definir o que penso. O Brasil tem alguma coisa a ver com aquele trapo de homem coberto de sangue, flagelado e coroado de espinhos. Nem o FMI nem o G-7 dariam um centavo por ele. Resta saber para onde o Barrabás fugirá quando chegar a hora."

Cony não manifesta explicitamente seu pessimismo pela reeleição de Fernando Henrique.
A argumentação pela analogia, referindo-se à opção dos israelitas por Barrabás, se encarrega disso. Fica subentendido que o povo brasileiro escolheu o pior.

A argumentação pela analogia não precisa ser longa. Às vezes, em uma frase é possível
sintetizá-la, como fez Ibn Al-Mukafa7 que, para convencer as pessoas a não ajudarem pessoas ingratas, diz que ”Quem põe seus esforços a serviço dos ingratos age como quem lança a semente à terra estéril, ou dá conselhos a um morto, ou fala em voz baixa a um surdo”.

20.6.10

Tese de Adesão Inicial e Tese Principal

Pessoal, quando nós precisamos defender o nosso ponto de vista e com isso buscar convencer o nosso auditório, não devemos propor de imediato nossa tese principal, ou seja, esse ponto de vista que queremos ”vender”. Primeiro, devemos preparar o terreno propondo alguma outra tese com a qual o nosso auditório possa antes concordar.
 
Essa tese preparatória chama-se tese de adesão inicial. Uma vez que o auditório concorde com ela, a argumentação ganha estabilidade, pois é fácil partir dela para a tese principal. As teses de adesão inicial fundamentam-se em fatos ou em presunções.

A tese de adesão inicial é a nossa introdução. Ela será usada no 1º parágrafo da redação.
Para encontrar a tese de adesão inicial devemos interrogar o tema da redação, transformar ele numa pergunta. A resposta será a nossa tese de adesão inicial.
 Vamos tomar como exemplo o tema da FUVEST 2010:
“Ao invés de nos relacionarmos diretamente com a realidade, dependemos cada vez mais de uma vasta gama de informações, que nos alcançam com mais poder, facilidade e rapidez. É como se ficássemos suspensos entre a realidade da vida diária e sua representação.”
Tânia Pellegrini. Adaptado.
Na civilização em que se vive hoje, constroem-se imagens, as mais diversas, sobre os mais variados aspectos; constroem-se imagens, por exemplo, sobre pessoas, fatos,livros, instituições e situações.
No cotidiano, é comum substituir-se o real imediato por essas imagens.


Para acharmos a tese de adesão inicial poderíamos fazer a seguinte pergunta:
Qual é a conseqüência da representação do mundo por meio de imagens através das diversas mídias, como televisão e internet?
Suponhamos que a resposta seja:
A manipulação da realidade com objetivos que podem não beneficiar ao bem maior e ao bem estar de todos.
Esta será a nossa tese de adesão inicial que usaremos para escrever o 1º parágrafo.
Agora que temos a tese de adesão inicial, temos que desenvolver e defender a nossa tese principal.
Mas qual será esta tese principal? Simples, é só buscar responder e entender a tese de adesão inicial. No nosso caso seria o porquê da manipulação da realidade beneficiar somente alguns e não a todos. 
Enfim, essa manipulação pode ser construída para vender determinado produto, mostrando como ele é essencial para o nosso bem estar; ou as imagens também podem ser construídas para influenciar a massa, como aconteceu na Alemanha nazista através da propaganda e retórica política de Joseph Goebbels.

Em resumo, as respostas para a tese de adesão inicial são os argumentos que serão usados para defender a nossa tese principal.

Essa tese principal deverá ser defendida no 2º e 3º parágrafos. Já o 4º parágrafo será usado para expor um exemplo que reforce o valor dos nossos argumentos usados para defender a tese principal.

Depois é só concluir a redação no 5º parágrafo com uma das quatro técnicas de conclusão:
a)      reforço da tese de adesão inicial;
b)      solução para o problema apresentado na tese principal;
c)      questionamento que faça o interlocutor pensar sobre a tese principal;
d)      apresentar um novo fato ainda não abordado e que se complemente à tese principal.